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Para analistas, descontrole fiscal poderá “estrangular” crescimento a partir de 2011

postado em 03/12/2009 0:00 / atualizado em 03/12/2009 0:00

O crescimento elevado em 2010 está contratado. Mas o crescimento do pós-crise é sustentado em bases frágeis, e a conta desta expansão do Produto Interno Bruto (PIB) só será paga pelo próximo governante. Esta é a avaliação de economistas como Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, e José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior.

Loyola, atualmente sócio-diretor da Tendências Consultoria, acredita que o "descalabro fiscal" promovido no segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será um fator de "estrangulamento" do PIB, a partir de 2011. No mesmo ano, avalia Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, a situação fiscal deixará de ser "tema circunscrito a fóruns e vai passar a ser problema premente para a sustentação do crescimento".

Bancos e consultorias já trabalham com taxas próximas a 5% de elevação no PIB do próximo ano, e alguns apostam em altas superiores a 6% (ver reportagem acima). Acelerando o ritmo de crescimento, o país deixou a recessão no segundo trimestre, depois que o acirramento das turbulências mundiais, a partir de setembro de 2008, desencadeou um mergulho recessivo na maior parte dos países. Com a concessão de benefícios fiscais, cortes nas taxas de juros, fortalecimento do crédito à pessoa física por meio dos bancos públicos, apontam os analistas, o governo conseguiu "contornar" a crise.

"O país trabalhou muito bem neste ano, mas, ao mesmo tempo", diz Loyola, "antecipamos um problema fiscal que só viria mais à frente". Segundo os economistas presentes em seminário promovido pela Serasa Experian, o incremento dos gastos com funcionalismo, seja aumentando as contratações, seja ampliando salários – que já era colocado em prática antes da explosão da crise -, funcionaram como a parte mais expressiva da política anticíclica promovida pelo governo federal.

"Gastos desse perfil não podem ser considerados anticíclicos. Não há uma maneira eficiente de cortá-los ou reduzi-los, o que caracterizaria uma política anticíclica", avalia Luís Paulo Rosenberg, sócio da Rosenberg & Associados. Para ele, o aumento da despesa alcança patamares "dramáticos". "Não há risco de descontrole fiscal em 2010, uma vez que o descontrole já ocorre desde, pelo menos, 2008", afirma.

Segundo Mendonça de Barros, a situação atual chama a atenção pela confluência de fatores conjunturais. Ao mesmo tempo em que a recessão criou a necessidade de aumento de gastos, também fez diminuir a arrecadação federal. "A receita já começa a dar mostras de que voltará com tudo no ano que vem, o que ajudará o cenário eleitoral. Mas, como os gastos já estão contratados por muitos anos, vai criar uma bomba para o próximo presidente", afirma.

Paulo Rabello de Castro, sócio-diretor da RC Consultores, avalia que a situação fiscal é "principal problema interno", ainda que não tenha força para retirar pontos do crescimento. No entanto, é a situação externa que afasta o conforto. "Não vejo um horizonte tão bonito para o ano que vem. Os analistas precisam perceber que a crise mundial ainda não acabou e não podemos crescer isolados", afirma. Para Castro, o PIB brasileiro crescerá apenas 3,7% no ano que vem, atrapalhado por um crescimento mais modesto dos países desenvolvidos. Castro aponta que o PIB americano deve crescer zero em 2010, o que torna a recuperação do comércio internacional – e consequentemente da economia mundial – mais vagaroso.

Segundo Loyola, a economia mundial está "dopada por remédios", simbolizados pelos estímulos – gastos elevados, emissão de moeda, aumento de endividamento, isenções fiscais – que, ao mesmo tempo em que melhoraram a situação no curto prazo, "empurram para o médio e longo prazo uma solução". A avaliação de Rosenberg é mais pessimista. Para ele, os estímulos não servem como remédio, porque pioram o problema "estrutural" do sistema. "É como dar cocaína a um paciente de UTI. Ele vai se sentir melhor na hora, mas, quando passar o efeito, ele terá um problema novo."

Fonte: Valor Econômico

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