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Distribuição de renda melhora, mas país é o 12º mais desigual

postado em 26/09/2012 0:00 / atualizado em 26/09/2012 0:00

BRASÍLIA Apesar da queda forte da desigualdade no ano passado, o Brasil ainda permanece entre os países mais desiguais do mundo, mantendo o título de Belíndia (termo criado pelo economista Edmar Bacha nos anos 1970, para retratar a concentração de renda no país, combinando a riqueza da Bélgica e a pobreza da Índia). O país passou da décima posição entre os piores na distribuição de renda em 2001 para 12ª posição, dez anos depois, conforme estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Essa queda da desigualdade ajudou a reduzir a pobreza. Foram 3,7 milhões que deixaram a pobreza, de 2009 para 2011, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2011), lançada semana passada pelo IBGE.

Em dez anos, os 10% mais pobres tiveram ganho 5,5 vezes maior que os 10% mais ricos. Enquanto a renda per capita da camada mais rica cresceu 16,6% entre 2001 e 2011, a dos mais pobres aumentou 91,2%. É a maior queda de desigualdade documentada no país.

Os dados constam do comunicado "A década inclusiva (2001-2011): desigualdades, pobreza e políticas públicas", o primeiro da gestão do novo presidente da entidade, Marcelo Neri.

– Os pobres estão num país como a China e o topo da pirâmide está no equivalente a um país estagnado, como os da Europa. O termo Belíndia continua valendo – destacou Neri.

Ao todo, 21,8 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza no período de 2001 a 2011. De acordo com o estudo do Ipea, a renda do trabalho foi o carro-chefe da redução das diferenças entre ricos e pobres e respondeu por 58% da melhoria na distribuição. A Previdência Social foi responsável por 20% da redução das desigualdades, enquanto os rendimentos do Benefício de Prestação Continuada (BPB) e do Programa Bolsa Família, por 4% e 13%, respectivamente.

– Cada real gasto com o Bolsa Família tem um impacto sobre a desigualdade 362,7% maior do que a Previdência. Já o BPC, de 129,7%. Isso significa que as desigualdades poderiam ter caído mais se o país tivesse feito opção mais forte pelos mais pobres – disse Neri.

Menos desigualdade regional e de cor

A redução da desigualdade é medida pelo chamado Índice de Gini, que passou de 0,594 em 2001 para 0,527 em 2011. O índice varia de zero a um e, quanto mais perto de zero, menor a distância entre ricos e pobres do país.

– O Brasil está no ponto mais baixo da desigualdade, embora ela ainda seja muito alta. Variação semelhante só aconteceu na década de 60, mas, neste caso, havia sido um salto no crescimento da desigualdade – explicou.

De acordo com o Ipea, as famílias chefiadas por analfabetos tiveram aumento de renda de 88,6%, contra queda de 11,1% nos rendimentos das famílias cujas pessoas de referência têm 12 ou mais anos de estudo completos.

No Nordeste, a renda cresceu 72,8%, contra 45,8% do Sudeste. Entre os negros e pardos, os ganhos foram de 66,3% e 85,5%, respectivamente, enquanto para os declaradamente brancos, foi de 47,6%. Já a renda das crianças de 0 a 4 anos subiu 61%, contra 47,6% entre 55 e 59 anos.

A queda da desigualdade não é um fenômeno único brasileiro. Apesar de dois terços dos países do mundo terem vivenciado alta da concentração de renda, China e Índia puxaram para baixo o índice. "A saga dos chineses e indianos rumo a melhores condições de vida é similar a de analfabetos, negros e nordestinos", diz o documento.

Fonte: Vivian Oswald / O Globo

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